08 março 2012

Ainda há dias de sorte




– Porque tens uma boca tão grande?
– É para te comer!
E o lobo mau saltou da cama sobre a Capuchinho Vermelho para a comer. Ela deu um grito tão estridente que ele ficou com ela atravessada na garganta.
Atordoado por aquele grito que lhe abalou os tímpanos, sentiu-se sufocar, custando-lhe a engoli-la. “Malvadas mulheres – ainda pensou –, que com os seus gritos atordoam e sufocam qualquer macho!”
Um caçador, que por ali andava perto, de espingarda ao ombro e de faca de mato à cintura, ouviu o grito e resolveu ir ver o que se passava. Foi dar com o lobo mais para lá do que para cá. Adivinhou o que tinha acontecido, quando o viu sozinho no quarto, caído no chão, de barriga inchada e com uns sapatos a espreitar do bocarrão.
– Aí tens, lobo guloso, a paga pelo que fizeste. Estrebuchas agora, malvado, depois de tão grande pecado!
O lobo, de olhos esbugalhados, mal conseguiu rosnar:
– Água… água…
– O rio corre já ali… e eu até tenho pena de ti. Comer duas mulheres à mesma refeição, se não é morte é indigestão. Pode ser que eu, com a minha faca, seja a tua salvação...

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