(Degas, The rape - 1868/69)
O amor tem destas coisas: por vezes acaba. Até o dia que nasce com um sol esplendoroso pode ficar carregado de nuvens negras. Porque teremos nós a capacidade de mudar?
Um amor para a vida inteira é, cada vez mais, uma utopia. Sonha-se com o príncipe encantado, ou com a Cinderela, e depois, o príncipe, afinal, é um sapo, ou à Cinderela, descobre-se que não lhe serve o sapato.
Um amor para a vida inteira é, cada vez mais, uma utopia. Sonha-se com o príncipe encantado, ou com a Cinderela, e depois, o príncipe, afinal, é um sapo, ou à Cinderela, descobre-se que não lhe serve o sapato.
Um Príncipe e uma Cinderela – uma história banal: Filomena, menina-mulher, casara com o príncipe dos seus sonhos, depois de meia dúzia de meses de romance, em que por uma meia dúzia de vezes se olharam e outra meia se tocaram. Nesse dia, sentira-se a princesa que ele tinha resgatado de Gata Borralheira, daquela sub-vida em que os maus tratos físicos e psicológicos eram o seu pão de cada dia. Começara, enfim, a viver. Emergira e sentira-se flutuar numa doce magia, numa felicidade dourada e reluzente, num sonho tão cor-de-rosa, que até estremecia com medo de acordar e vir a descobrir que aquele sonho era um pesadelo.
Decorreram semanas de mel e luar em que ele, amante apaixonado, sofregamente, a ensinou a ser mulher, a descobrir sensações nunca antes imaginadas. E aprendeu o que era amar, o que era desejo, o que era o êxtase e a plenitude da felicidade.
Exalando um mar transbordante de águas quentes – escaldantes até – cega de amor e de vida, passavam-lhe ao lado alguns pormenores. O seu marido, cada vez mais, vivia na noite, com o álcool como companhia principal; mas ela desculpava, porque ele a amava sempre com intensidade, impetuosamente. Se existiam algumas diferenças, essas eram em si. Descobriu porquê: estava grávida. Ele confiou-lhe lágrimas de alegria, e nela elevou-se o instinto maternal – ele queria um filho. Sublime contentamento, suprema negridão. Não, não era uma filha que ele queria…
Decorreram semanas de mel e luar em que ele, amante apaixonado, sofregamente, a ensinou a ser mulher, a descobrir sensações nunca antes imaginadas. E aprendeu o que era amar, o que era desejo, o que era o êxtase e a plenitude da felicidade.
Exalando um mar transbordante de águas quentes – escaldantes até – cega de amor e de vida, passavam-lhe ao lado alguns pormenores. O seu marido, cada vez mais, vivia na noite, com o álcool como companhia principal; mas ela desculpava, porque ele a amava sempre com intensidade, impetuosamente. Se existiam algumas diferenças, essas eram em si. Descobriu porquê: estava grávida. Ele confiou-lhe lágrimas de alegria, e nela elevou-se o instinto maternal – ele queria um filho. Sublime contentamento, suprema negridão. Não, não era uma filha que ele queria…
O modo como se desenrola uma história, apesar de contornos peculiares, não é muito diferente de outras histórias. Filomena carregava uma filha no ventre e, ao mesmo tempo, foi carregando agressões, violações, fome; toda a espécie de violência física, verbal e psicológica, por parte de um homem cobarde e irracional que, sob a capa do álcool, parecia lograr um só propósito. E a filha nasceu… e morreu em seguida.
O que sempre temera acabara de acontecer.
O que sempre temera acabara de acontecer.
(M. Fa. R. - 21.02.2009)