07 junho 2010
Das ovelhas não reza a estória - versão II - ou Uma estória de chacais
Ah, como eu gosto deles!
Não. Não e não!
Não sei nada.
Já não enxergo nada de nada.
Tudo o que antes me fascinava morreu.
Só uma alcateia de chacais me traz cativa.
Como tudo neles é belo!
Até se me afigura ficção!
Os seus olhos reflectem a luz do sol em raios de serenidade.
E harmonia.
E das suas vozes soltam-se arco-íris em bolas de sabão!
Ah, e então, até se quedam mudas as avezinhas ao ouvi-los uivar,
E se inclinam reverentes os verdes trigais ao vê-los atravessar!
Mas lembra-me desistir…
Uma dor sobrevoa-me as notas musicais
E não me deixa cantar tudo o que me morre na garganta.
É como uma sombra que me desfaz os acordes
E os tolhe de se expressarem em flor,
Em amor, em luz, em ilusão, em alimento.
Sim, é uma dor que se mistura com um grito e o seca.
Dor, angústia, revolta…
Então, não é que anda aí uma desmesurada corrosão
Em relvados que se enchem de buracos
E se vestem de degradação?!
É que é quase obsceno algum ódio de estimação!
Sugere-me uma sorte de castração…
Como se alguém que cala mais alto!
E ninguém entende a minha quietação,
O mutismo que estou a sentir!
É muito, mas hei-de singrar e mandá-los ganir!
(M.Fa.R. - 26.05.2010)
17 comentários:
«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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Leia pf: Indicações sobre os Comentários
Amiga Fa
ResponderEliminar"Felizes os que praticam o direito e a justiça em todo o tempo.
Salmo 196:3".
Nós podemos mudar em nós coisas que não nos agradam mas mudar os outros só eles o podem fazer.
Vamos mudar o nosso olhar em relação aos outros...
Dificil?...Mas não impossivel apenas uma tempestade... não é um dilúvio...
Gosto imenso deste desabafo que coisa maravilhosa escreves
Obrigada
*
ResponderEliminarHuauuuuu,
adorei,
e sem palavras
fiquei . . .
,
conchinhas, deixo,
,
*
eu também hei de mandá-los ganir... belo poema
ResponderEliminarExcelente poema...aplaudo de pé.
ResponderEliminarForte abraço
Mer
Vive em sintonia contigo própria que o resto virá por si!
ResponderEliminarNo viver as dores pastam pelas várias partes do nosso corpo.
ResponderEliminarCadinho RoCo
Boa tarde Fá-Menor,
ResponderEliminarlindo, excelente, um desabafo cheio de garra.
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
Um poema narrativo que se afigura uma descrição e qyue de repente se transforma num verdadeiro e sentido grito de alma!
ResponderEliminarGostei muito...
Fabuloso.
ResponderEliminarNem tenho mais palavras para caracterizar o teu texto.
Parabéns pelo teu talento.
Querida amiga Fá, bom resto de Domingo e boa semana.
Beijos.
Um poema que narra muito bem o grito interior! bonito!
ResponderEliminarBjs
Muito sentimental! Gosto de poemas fortes. Sabes Fá, o teu remeteu-me para a actual situação ambiental acerca do javali. Há uma praga em Portugal, e esses porcos selvagens devastam tudo e provocam tuberculose no homem. Deixaram entrar e agora a coisa está descontrolada. Já invadem praias e o meio citadino.
ResponderEliminarDesculpa ter desvirtuado o teu belo e profundo sentir.
Boa semana e beijinhos, amiga Fá.
Olá querida amiga Fá!
ResponderEliminarQue beleza de poema!
Forte, lindo e sensível.
Muito bom ler suas palavras, que sei, vem do coração.
Beijos, Deus abençoe você sempre 🌷
Você tem uma escrita de grande beleza, Fá! Admiro seus textos e suas colocações. Bjs.
ResponderEliminarBoa tarde Fá,
ResponderEliminarMas que poema tão belo, cheio de beleza e profundidade.
Fez muito bem em reeditá-lo, para eu ter o prazer de o ler.
E ficar a pensar... Sempre atual.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Um texto bem actual... pois chacais... cada vez parece haverem mais... e com a desmesurada corrosão... cada vez mais a dar lugar a uma desmesurada corrupção...
ResponderEliminarMais um texto formidável, que nos faz reflectir sobre este nosso mundo... cada vez mais entregue à bicharada!...
Beijinhos, Fá! Feliz domingo, com saúde, para si e todos os seus!
Ana
Que belo poema, cheio de garra,
ResponderEliminarvem lá do fundinho da alma...
e termina numa bela explosão de sentimentos.
Um bom fim de semana que está chegando, aliás, um feriadão! Viva o belo Portugal, Viva Camões, Viva as Comunidades Portuguesas!
Beijinho, querida Fá.
Fez-me lembrar a velhinha dolly, agora clonada com nova pele
ResponderEliminar:-)