27 julho 2010

Presença

Acabou por se levantar a custo da noite mal dormida, de cabeça pesada e de olhos colados pela manhã de sono que o dia lhe vinha roubar. A cama, que lhe custara a moldar ao corpo, bem que lhe pedia agora para esperar, mas o despertador digital, que lhe sobrara na mesinha de cabeceira, acenava que não. O tempo não se compadecia com esperas. Quão complicado de rodar a surpreendia, tantas vezes, o filme da vida! O mundo fazia-a correr, girar, muitas das vezes, sem indicar bem para onde ir. A vida dava-lhe voltas e trocava-lhas, sem contemplações pelo que ela pudesse sentir! Só um grande amor à vida era o seu companheiro das horas insubmissas, que o mundo nunca lhe tinha conseguido tirar. Com aquele amor fazia-se de forte na fraqueza que ocasionalmente a apertava. E nunca tinha deixado perder as esperanças de que dias luminosos pudessem chegar. Farta andava de calcorrear ruas, umas apinhadas de nada, outras vazias de tudo, outras com tudo e mais nada. Todas elas lhe sugeriam, pediam até, que era preciso ainda mais amar. E os sonhos sempre lhe voaram em liberdade. Eram gaivotas que não tinha deixado meter na prisão.
Por isso, não, não podia dormir quando a justiça social se faz ausente. (M.Fa.R. - 14.05.2010)

13 julho 2010

Noite de Verão



As noites de Verão
Também trazem solidão
Resquícios de sofrimento
Águas que gemem lamento
Sabor a sal e tormento
Aperto no coração

Nas asas de um condor
Um sonho de puro amor
Um sopro de maresia
Uma sede de infinito
Voo em forma de grito
Enquanto não nasce o dia

Noite de Verão
Entre a tarde e a manhã
Deixa leve a mágoa antiga
Deixa-me sorrir à vida
Esquecer a minha dor

Noite de Verão
Entre o sol e o luar
Traz alento ao meu viver
Traz sorriso ao meu querer
E deixa-me voar

(M. Fa. R. - 26.11.2009)