27 julho 2010

Presença

Acabou por se levantar a custo da noite mal dormida, de cabeça pesada e de olhos colados pela manhã de sono que o dia lhe vinha roubar. A cama, que lhe custara a moldar ao corpo, bem que lhe pedia agora para esperar, mas o despertador digital, que lhe sobrara na mesinha de cabeceira, acenava que não. O tempo não se compadecia com esperas. Quão complicado de rodar a surpreendia, tantas vezes, o filme da vida! O mundo fazia-a correr, girar, muitas das vezes, sem indicar bem para onde ir. A vida dava-lhe voltas e trocava-lhas, sem contemplações pelo que ela pudesse sentir! Só um grande amor à vida era o seu companheiro das horas insubmissas, que o mundo nunca lhe tinha conseguido tirar. Com aquele amor fazia-se de forte na fraqueza que ocasionalmente a apertava. E nunca tinha deixado perder as esperanças de que dias luminosos pudessem chegar. Farta andava de calcorrear ruas, umas apinhadas de nada, outras vazias de tudo, outras com tudo e mais nada. Todas elas lhe sugeriam, pediam até, que era preciso ainda mais amar. E os sonhos sempre lhe voaram em liberdade. Eram gaivotas que não tinha deixado meter na prisão.
Por isso, não, não podia dormir quando a justiça social se faz ausente. (M.Fa.R. - 14.05.2010)

16 comentários:

  1. O mundo é o que é, e não podemos passar ao lado de certas situações. Nem as gaivotas livres.

    Beijo

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  2. Que a maioria não consiga dormir, quando qualquer tipo de injustiça se faça ausente. Para que a obriguemos a estar /SER presente.

    beijo

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  3. *
    quão belo é este texto,
    um vivificado alerta !
    ,
    marés de amizade,
    deixo,
    ,
    *

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  4. Que o mar em suas alterosas ondas se lembre que os seres vivos que habitam fora dele, também teem dirito á vida. Hoje, Mário Bettencout Resendes deixou-nos. Também nós havemos de fazer-lhe companhia. Foi-se o íncone do jornalismo em Portugal. Que a Paz lhe faça companhia entretanto.

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  5. E se as pessoas deste país

    fossem como devem

    mais valia ir dormir para outro lado!

    Era o que eu devia ter feito!

    Beijoca

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  6. ººº
    Dormir é fundamental

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  7. Oi, Fa querida!
    Os sonhos voam, mas a realidade nos aprisiona...

    Lindísimo post!
    Uma semana ótima, amiga!!!Bjsss

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  8. Dormir mal porque os outros sofrem, infelizmente, não resolve as situações dolorosas. Temos que, acho eu, tentar dormir bem para podermos lutar contra todas as injustiças sociais. Gostei de saber como o Bill Gates faz uso duma parte da fortuna dele em favor dos outros e incentiva outros milionários a fazer igual. Oxalá tenha êxito no seu pedido porque às vezes, dá-me náuseas ver pessoas imensamente ricas e outras imensamente pobres.
    Beijinhos
    Verdinha

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  9. .

    . bel.íssimo ! . puno.me por não ter des.coberto antes mais este en.canto sublime .

    . até porque,,, o tempo não se compadece ! .

    .

    . parabéns . amplos e sinceros .

    .

    . um bom fim.de.semana .

    .

    . um beijo meu .

    .

    . paulo .

    .

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  10. Os pássaros

    aprenderam a conquistar asas

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  11. A (in) justiça social

    é uma praga nacional!


    Saudações minhas

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  12. que bom seria, se a injustiça tira-se o sono , a muitos que se fazem de boa gente, mas que de bons não tem nada, e de justiça só sabem para tramar os outros. bj

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  13. Que quem comete as grandes injustiças que vemos perca o sono pra sempre... Assim,talvez pensariam melhor antes de cometê-las... beijos, chica

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  14. Apenas no sonho conseguimos desenhar o caminho que gostaríamos de trilhar, tão distante da realidade que nos machuca. Um lindo texto! Bjs.

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  15. Um texto muito belo e veemente! Bem me vejo nesse acordar, para um mundo tão problemático... a que a actual conjuntura, ainda mais veio agravar tantos problemas antigos...
    Adorei ler, Fá! Beijinhos! Votos de uma feliz fim de semana!
    Ana

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  16. Quantas vezes é difícil acordar para mais um dia sem esperança, em que o mundo se defronta com tantos problemas, mas a vida continua e temos que reagir à inércia que se apodera de nós!
    Gostei muito do teu texto onde os sonhos continuam vivos e voam como as gaivotas.
    Beijo.

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«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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