Para aqueles que a rodeiam ela é, manifestamente, a personificação da perfeição. Ela é que é. Ela é que sabe. Os homens quase lhe beijam o chão que pisa, mendigando-lhe um rasgo do seu olhar; as mulheres vêem nela o ídolo a imitar.
No entanto, aos trinta e cinco anos, o mundo soa-lhe a uma porta semiaberta. Pela fresta, do lado de fora, a multidão a aplaudi-la; do lado de dentro um turbilhão de insegurança a tolhê-la: nunca saberia se todo aquele apreço seria sincero ou fingido.
Logo de manhã, qual madrasta da Branca de Neve, depõe no espelho o seu reflexo, para dele retirar alguma da confiança que a sustente debaixo do sol ou das luzes da ribalta. Mais um jeito daqui, um retoque dacolá – malditas rugas que a cada dia mais espreitam e mais máscara exigem. E são minutos incontados na produção da imagem de marca que lhe terá de assentar como luva. Depois revê mentalmente alguns dos passos que deverá dar, apostando-se em fugir de todos os outros que não puder controlar. Havia frutos de que não podia desistir, apesar de se encontrarem no cimo de uma árvore alta. O apetite levava-a a calcular tudo minuciosamente para evitar escorregadelas em tronco ensebado. Se resvalasse estatelar-se-ia ante os olhos de todos – vivia encostada a esse medo. Por isso tinha de ser precavida: a imagem tinha de ser extremamente produzida. E os passos eram contados. Contidos. Ofegantes no receio de fracassar. Quando a imagem que se quer passar é baseada em artificialidade escondida isso gera, seguramente, insegurança. Ela ainda não é ela toda, mas tem de o ser. Depressa. Agradar. Para saber a ela inteira tem que agradar sempre. Nem que lhe tenha que doer.
Agradar. Agradar o tempo inteiro é o seu único objectivo de vida. E receber sempre a ovação que daí emana. Mas morria no constante degredo de que a qualquer momento lhe espetassem o dedo: isto não é coisa da Joana.
(M. Fa. R. - 21.12.2010)
Belo. Fez-lhe lembrar de um belo poema, que termina mais ou menos assim: "Mas se pudesse o espírito que chora/Ver através da máscara da face/Tanta gente que inveja agora nos causa/Talvez piedade então nos causasse". Profundo... muito profundo. Boa semana, amiga!
ResponderEliminarUma análise, quase introspectiva, que nos diz da aflição e negação de um certo caminho para a construção de uma "certa" imagem de perfeição que sempre espera o louvor dos outros!
ResponderEliminarQuero muito viver com as minhas imperfeições.... tal como a Joana!
Viver da imagem é abdicar duma vida própria, sentida. Vive-se em função do exterior, quando o que conta é o que está dentro de cada ser humano...
ResponderEliminarBj Fá
José
Não se consegue agradar sempre...
ResponderEliminarBeijo d'anjo
Abdicar sempre pode deixar marcas. Muito lindo!
ResponderEliminarBjs
por vezes
ResponderEliminartão frágil
o brilho dos cristais
Quem vive para agradar aos outros não anda em liberdade.
ResponderEliminarMas também não é preciso desagradar...
Texto muito bom, gostei.
Olá, Fa
ResponderEliminarNa verdade,ter a preocupação de agradar sempre é uma prisão. Joana tem a perfeita noção disso o que a deixa ainda mais insegura, mas com um grande desejo de arrepiar caminho e voltar ser ela própria.Muito bom texto.
Beijo
Olinda
Antes de nos preocuparmos em agradar aos outros , temos que agradar a nós próprios!
ResponderEliminarGostei do texto
Bom Fim de semana
Ser agradável aos semelhantes é bom, pois também esperamos o mesmo tratamento.
ResponderEliminarQuestão complexa, interessante.
Beijos, amiga!!!
Como sempre um belíssimo texto seu, que gostei de ler.
ResponderEliminarMARÇO
para mim, MARÇO é um mês que significa muito na minha vida; tantas coisas têm acontecido nos MARÇOS da minha existência.
Hoje estou numa de recordações. Houve tempos em que queria esquecer a fase final do meu KALINKA, mas agora já aceito, porque eu mudei e fui à procura de uma nova vida.
SIM, com a ajuda daquela pessoa que tudo fez para que eu tivesse um blogue, a minha sobrinha TÂNIA, que partiu deste Mundo, há quase 2 anos - vai fazer domingo - dia 27 que a princesa nos deixou.
Era um SER ESPECIAL e DEUS quer junto d'Ele todos os seres especiais.
Daí que eu esteja numa fase de introspecção neste fim de semana, pois a TÂNIA faz-me muita falta, mesmo muita.
Com ela partilhava tudo!
Estou aqui a recordar o início do blog "KALINKA"
20 de Março de 2005 – Início de uma nova vida!
HÁ 6 ANOS QUE FAÇO PARTE DA BLOGOSFERA.
"Deabrilemdiante" festeja a existência de 30.000 visitantes, é uma espécie de continuação do Kalinka.
Amiga Fá,
ResponderEliminarEste texto como sempre muito bem escrito e que foca um tema tão actual e que denuncia bem algumas das nossas fragilidades humanas.
Um convite a olharmo-nos bem dentro de nós e corrigir o que não está bem.
Conversão, reconciliação, fraternidade.
Beijinhos.
Bom fim de semana.
Ailime
Estimada Amiga:
ResponderEliminarAs ribaltas da fama se não for com humildade esvaíem-se. Desaparecem.
Excelente! Bela lição que já registei.
Beiinhos de respeito.
Com admiração constante.
pena
Diz-se que a imagem nem sempre agrada a gregos e troianos. Mas a verdade é que tratar, e ter uma boa imagem "abre" muitas "portas" sem dúvida alguma.
ResponderEliminar.
Abraço poético.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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interessantw, Fá e sempre atual, porque não faltam
ResponderEliminarem todas as gerações, tontinhas e fúteis...
Viver para agradar, triste destino!
Saúde e dias bons. Beijinhos
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Uma dissertação muito atual
ResponderEliminarAdorei