26 agosto 2011

Investida



(Rose Waine, News Of The Red Umbrella in sweetscissorlips)


A noite zangou-se. O calor era-lhe demais – trinta e cinco graus medidos no termómetro do tablier, ao estacionar à porta de casa. Ia haver descida de temperatura, tinham afiançado. No entanto, nunca estivera tão quente ao cerrar da noite. De onde se soltava aquele bafo de fogo? Havia, por certo, algum touro monstruoso encoberto. Não, não um, mas um cento, que aquele resfolegar manhoso, que se ouvia perto, não era só do vento. E nisto, pelos ares, um mundo de lixo em movimento. Em investida. A noite zangou-se. Revoltou-se. Uma tourada é sempre violenta. Sangrenta. Um espectáculo medonho e cruel a que muitos assistem como se fosse cinema de cordel.
E vai o touro de levantar nos cornos tudo de revoada. Atira pelos ares o que encontra pela frente. E a gente teme o pior. Porque não há calor que não dê em frio. É que quando uma coisa aquece demasiado tem que rebentar por algum lado.

17 comentários:

  1. Menina musical
    uma prosa poética sem igual!!
    Linda esta investida
    com a natureza vestida
    de um termómetro de vida...

    Beijo e desculpa as ausências

    (estive a ler por aí abaixo...
    sempre que aqui venho
    fico cheia de música
    seja ela valsa ou tango
    milonga ou fandango...
    gosto da forma como a pauta
    é escrita...melodia bonita!):)

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  2. Também sinto essa espécie de aflição que essas baforadas nocturnas sempre me provocam!

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  3. Fa,
    Excelente texto, com um epílogo adequado às circunstâncias que vivemos.

    Beijo :)

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  4. uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

    eu detesto tourada,detesto touros.

    concordo plenamente contigo,acho tudo muito violento e sangrento tambem.

    tourada é um espectaculo que eu detesto assistir e ver.

    beijinhos e um bom fim-de-semana!!

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  5. Amiga Fá,
    Um texto como sempre muito bom e relatando o que de momento se está a passar pelo mundo em metáforas muito oportunas.
    Beijinhos,
    Ailime

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  6. Um texto muito bom. Cheio de outros sentidos...
    Beijos.

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  7. Os meus parabéns pela forma subtil da sua escrita. Vária intrepertações...
    Muito bom.
    Saudações poéticas.

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  8. Uma metáfora que é o filme das nossas vidas...

    Beijo

    Olinda

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  9. Belo texto, minha amiga. Reflecte na perfeição, o nosso dia-a-dia.

    Beijinhos e bom domingo!

    Mário

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  10. Vivemos demasiado tempo nos cornos do touro...
    Belíssimo texto, gostei imenso.
    Querida amiga, tem uma boa semana.
    Beijos.

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  11. Lindo te ler,Fá! E realmente, após um calorão, tememos o temporal...beijos, tudo de bom,chica

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  12. Srrsssss...
    Detesto touradas... de qualquer género...
    Talvez não seja tão mau---
    Abraço, amiga Fá-
    ~~~~

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  13. Um final que aplaudo. Ótimo texto, Fá! bjs.

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  14. Um texto muito bem imaginado, que nos faz reflectir em tantas vertentes distintas!...
    Vivemos cada vez mais num mundo, que persevera em perigosas investidas... até contra si mesmo! Mais outra cimeira do clima... sem grandes avanços... um dia... a coisa tem mesmo de estoirar por qualquer lado... cheias, secas, guerras, epidemias... parece que o novo normal... continuará cheio de emoções fortes!...
    Beijinhos, Fá! Votos de uma feliz semana, estimando que tudo esteja bem, aí desse lado!
    Ana

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  15. Excelente texto, com muitos "recados" nas estrelinhas.
    Quanto às touradas, tenho exatamente a tua opinião. Bem Hajas!

    Um grande abraço!

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«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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