A palidez das horas crava-se no dia molhado
Como quem se demora num gesto obtuso que arremeda o silêncio.
E o sol faz-se rogado, atordoado pelas nuvens
Carrancudas de chuva.
Há dias em que o sol só se abre em pequeníssimos raios
E falha uma luz maior a orientar o caminho.
Mas sabemos que o sol está lá
Todos os dias,
Por detrás do ar fechado,
Desdourado,
Sem se atrever a mostrar.
Como uma onda
No mar
Ou como as marés que influenciam a lua
Tudo tem um tempo.
E o tempo é para viver.
O tempo ajuda a moldar,
Desmoldar, refazer, levedar, dividir,
Repartir, adicionar e crescer,
Ainda que doa
A quem doer.
Mas haverá sempre uma outra qualquer onda por chegar.
Se não nos preparamos para o seu embate
Aprendendo a nadar ou tão-só a flutuar,
Ecoará a palidez
Roçagará o escarlate.
E também é preciso saber perder,
Para que não se prove o sabor amargo
Nem a árvore se despedace,
Pois não se pode contar só com vitórias.
Há que permanecer inteira,
Nas cargas inglórias,
Com todos os ramos pegados ao tronco, à raiz.
Mesmo que nos viremos do avesso,
De cabeça ao fundo.
Depois, é levantar a cerviz
E retornar ao bulício do mundo.
Arriscar a semear um pouco de luz
E talvez colher algumas gotas de chuva luminosas.
Ainda que as nuvens se acerquem,
E em intempéries se alterquem,
Somando deslustro ao estrilho,
Não esmoreça o nosso brilho!