28 janeiro 2011

Caldinho_s



“Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.” Bem, agora já dizem que os caldos de galinha podem fazer mal também. Resta-nos a cautela.
Com a cautela podemos ganhar a lotaria. Com cautela, e sem ela, vive-se no dia-a-dia semeando e colhendo o que se semeou; ou uns semeando e outros lhes colhendo os frutos (e sem cautela lhes sai a lotaria) – alguns só sabem mesmo é (re)colher o que os outros semearam: um regalo. Regá-lo nem é com eles, só recolhê-lo. E comê-lo. E não se vê o fundo à panela, nem ao tacho. Cautela! É preciso cautela onde nada se vê.
Pois é bem certo: “em terra de cegos quem tem olho é rei”. E do nada nos aparece, tantas vezes, uma lei que, como num toque de magia, nos dizem ser remédio santo, e, no fim, verifica-se que não passa de quebranto, que amolece todo um povo e o adormece num sono de morte.
Oh, triste sorte a de quem assim se deixa adormecer. A dormir não se pode semear nem colher. E a colher que se leva à boca deixa, de um momento para o outro, de se ir mergulhar no prato, agora vazio de sopa, e só cheio de promessas que não enchem a barriga. E eu que o diga: se não quiserem ir parar ao fundo do cabouco, aquele caldo de galinha, que dantes era cura e agora é só gordura, terá de voltar a ser remédio e emplastro e urdidura. Mas, enfim, “de médico e de louco todos temos um pouco”.


(M. Fa. R. - 22.11.2010)

17 comentários:

  1. Fa,
    Excelente texto!
    Felizmente lucidez não lhe falta.

    Beijo :)

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  2. Excelente texto! até me appeteceu para contrariar ir comer um caldinho de galinha...
    Bjs

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  3. O povo e os seus provèrbios estão cheios de sabedoria.
    Beijos.

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  4. Fa
    Bem, já que provaste que o caldinho de galinha não é muito aconselhado... e que "Em terra de cegos quem tem um olho é rei".

    Claro...Pensando bem amiga, sempre dá para plantar uns nabos, que diabo.

    O problema é a concorrência... já nem isso dá lucro, há tantos por aí... já quase a dar grelos...

    A partir de agora vamos desenrrascar-nos com caldo de nabos e algumas batatas quentes.

    Com pouca vontade mas para não ficarmos doentes vitamina C... aonde? Nas laranjas.
    Beijinhos
    da amiga Utilia

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  5. Ó minha amiga musical que texto tão original!!!
    Misturar mézinhas com provérbios populares, dar-lhe um toque de poesia com um quê de ironia...ficou divinal!!...eu que o diga, afinal :)))
    beijinho entre o caldo de galinha e faina minha :)

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  6. Tudo nos faz mal e, mesmo o que julgamos que nos faz bem, amanhã virá um especialista qualquer a dizer que faz mal.
    Mas uma coisa te garanto que nenhum especialista dirá que faz mal: Amor, entrega e partilha.
    Com o resto, mal ou bem, cá nos vamos aguentando.
    Sem isso, não nos mantemos...
    Beijinho

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  7. Um texto que nos deixa muito nas entrelinhas...

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  8. Amiga Fá,
    Um texto escrito com maestria sobre o assunto que foca.
    O mundo está diferente, tudo mudou.
    Não sei como lhe diga, mas julgo entendê-la, porque há coisas por demais evidentes que até provocam uma certa tristeza.
    Beijinhos e grata por esta magnífica partilha.
    Beijinhos da
    Ailime

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  9. Ainda os caldos de galinha na mesa...?
    Vim à espera de encontrar um sarrabulho...
    Bom fim de semana.
    Beijos.

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  10. Um texto surpreendente e muito bem construído!
    Vou ter cautela... ou não!

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  11. Cautela, sim... desde que não se transforme em medo. Se me for dado escolher... prefiro os caldos! :) Boa semana.

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  12. "de médicos e de loucos todos temos um pouco" e "mais vale prevenir do que remediar"
    Muito bem se escreve por aqui. Muita criatividade e lucidez os meus parabéns Fá!

    Bj

    José

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  13. Usando ditados populares escreveu um excelente texto que muito gostei de ler e muito elogio
    .
    Feliz fim de semana.
    Cuide-se
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  14. Fa, adorei ler seu texto!
    Excelente! Estes ditados conheço todos!
    E agora quero um caldo de galinha,
    sem muita gordura, por favor!
    Vou tomar com cautela.
    Beijos!

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  15. O meu pai -- que Deus o tenha -- usava muito a palavra cautela, sempre que era necessário ter cuidado...

    Quanto aos caldos, se bem feitos e desengordurados, acordam mortos... (Sorrisos)

    De política, nem vale a pena falar, mas de olho aberto!

    Boa semaana, Fá. Beijinhos
    ~~~~~~

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  16. Conselho sábio e que nunca envelhece.

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  17. Olá Fá
    Um ótimo texto, um forte abraço.

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«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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