Há poeira no ar. No chão da rua. Nas escadas de cimento velho que levam ao primeiro andar...
Infiltra-se nas casas através das frinchas, e vai até ao mais recôndito da alma – um outro patamar.
Quando chove pode enfim remover-se a poeira que se tinha acumulado e tornado eira, esteira, ladeira íngreme e pestilenta, escorregadia. A chuva refresca, lava e depura a macilenta agrura em que se tornou o dia-a-dia de poeira-eira-esteira-ladeira.
Mas há poeira a formar-se continuamente no mesmo lugar.
E quando chove dias a fio, num tempo em que se esperava estio, a poeira-eira-esteira-ladeira engole-se à mesa da cozinha defumada, como se broa bolorenta fora manjar.
Por vezes é preciso deixar a poeira assentar. E depois a chuva cair. E regar. Lavar. Escorrer. Até parar.
Mas como tantas vezes isso tarda em acontecer!
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