(Foto Olhares JP - O Descanso da Guerreira )
“Golo, goolo, gooolo, gooooolo…” – é a melodia que me quer saltar das mãos.
As pessoas olham e eu atendo, sentindo-me estúpida.
- Estou?...
Não consigo evitar a voz rouca.
- Olá, amor! Pareces o lobo mau! – Ouço do outro lado.
Atrapalho-me.
- Eu não… quero dizer, não…
- Pois claro que não! Estava a brincar, mas é que não pareces tu!
- Não…
Quis dizer o que se passava, mas não deixou. Continuou a falar, muito segura de si.
- Não vais acreditar! Hoje vamos desenhar modelos nus… já viste bem? – Diz num riso miudinho, nervoso.
- Não!... – Elevo a voz e sinto, cravados em mim, olhares que me comem as palavras.
- É o que te digo! Eu sabia que não ias acreditar…
- Estou sem tempo… – digo num passo apressado – posso falar?
- Mas… tu não és o Paulo!
- Claro que não, se me tivesse deixado falar teria percebido que sou mulher.
- Bolas! Eu não posso acreditar que o Paulo me anda a trair por aí com outra qualquer…
- Não é assim…
Sinto-me incomodada com esta conversa e com as pessoas que passam por mim afogueadas. Sou uma aranha, no meio de um emaranhado de fios mal urdidos e que tenho de endireitar.
- Espere. Vou contar o que aconteceu.
- Estou à espera.
- O telemóvel não é meu.
- Olha a novidade! Isso, já a gente percebeu…
Levo um encontrão.
Isto é de loucos! Quem raio me mandou, numa rua movimentada em hora de ponta, pegar num telemóvel abandonado no chão?
(M. Fa. R. - 13.02.2009)




