Sorriso



Uma janela, aberta de par em par, por onde a alma se escapa. Por vezes timidamente; outras, à descarada. Uns dias, só uma fresta; outros, escancarada. E a alma passa: tantas vezes receosa; outras, alma penada; vermelha, cor-de-rosa, amarela, esverdeada; com sonho ou acordada. Uns dias, de noite escura; outros, de madrugada; outros, ainda, à dependura do sol, que sobe no horizonte, levando pelo caminho os outros até à fonte.

Sem cortinas e com elas: passa calor, passa luar, frescura à luz de velas; ternura, aconchego, carinho; humor, vida, atenção; zombaria, alegria; uma seta que se espeta no centro do coração.

Pertinente, inconveniente, um raiar de sentimento. Às vezes, um diz que diz; outras vezes por um triz um ar de graça que passa, sem jeito, com jeito, a preceito, por tudo e por nada. E outras vezes, contudo, com tudo e sem nada.

Metamorfose


Correr pelo campo, coberto de margaridas, é esvoaçar pelos céus como águia solta ao encontro do sol. Ah, se pudesse ter asas! Assim vibra Luísa, ao experimentar a sensação de liberdade que a vem salvar.
Luísa, prisioneira de um sonho, ao mergulhar os pés no tapete de margaridas, delira como já há muito não lhe acontecia. Ganhar asas é anseio que a persegue e a mantém cativa, refém de um azul que vislumbra ao longe, mas que ao mesmo tempo os grilhões do medo lhe vão impedindo que aconteça.
Agora, este chão, orvalhado de flores, segreda-lhe ousadia. Barricar as portadas do seu mundo, logo que o medo se retire por uns instantes, é a decisão acertada para se desembaraçar, de vez, do seu opressor. O medo ficará para sempre do lado de fora, impedido de atravessar a barreira. Há-de voar. Perseguir o sonho, mantê-lo vivo. E jamais será simplesmente mulher. Será deusa, anjo, pássaro ou apenas libelinha, tanto faz. Voará. Riscará o céu, a lua, as nuvens… ou apenas as flores. Irá ao encontro da luz mais brilhante, ou apenas da linha do horizonte. Mas voará. Voará com as asas coloridas que um arco-íris lhe trouxer.
Por enquanto é apenas crisálida.

(M. Fa. R. - 06.02.2009)

Um Arco-íris e Arame Farpado



(Imagem)

Pinto numa tela de sombras
Um arco-íris em arame farpado
Um sol que brilha escondido
Num universo nublado
Mas eu não sei pintar
E tolhem-me dias impacientes

Tinjo uma nesga de sol no horizonte
Fiapos de estrelas ao vento
Chuviscos de versos dolentes
Caudal de abrolhos fulgentes
Em campo minado sem tento

Açoito o leito dum rio
Areia sem pó nem navio
Num vácuo dormente e canino
Em que me alheio e amofino

E cismo
De entre uns rastos de harmonia
Talvez brote poesia



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