27 maio 2010

Das ovelhas não reza a estória



Ah, como eu gosto deles!
Não. Não e não!
Não sei nada.
Já não enxergo nada de nada.
Tudo o que antes me fascinava morreu.
Só os meus pastores de eleição me trazem cativa.
Como tudo neles é belo!
Até parece ficção!
Os seus olhos irradiam a luz do sol em raios de serenidade.
E paz.
E das suas vozes soltam-se arco-íris em bolas de sabão!
Ah, e então, até se quedam mudos os passarinhos ao ouvi-los cantar,
E se inclinam murchos os verdes prados quando os vêem passar!
Mas apetece-me desistir…
Uma dor sobrevoa-me as palavras
E não me deixa declarar tudo o que me morre na garganta.
É como uma sombra que me desfaz o verbo
E o tolhe de se expressar em flor,
Em amor, em luz, em ilusão, em pão.
Sim, é uma dor que se mistura com um grito e o seca.
Dor, angústia, revolta…
Então, não é que há por aí uma desmesurada corrosão
Em campos que perdem encantos
E se vestem de prantos?!
É que é quase obsceno algum ódio de estimação!
Parece que há como que uma castração…
Como se alguém que cala mais alto!
E ninguém percebe a minha aflição!
Tanta, que só me apetece dizer-lhes:
Vão dar banho ao cão!

(M.Fa.R. - 21.05.2010)

17 comentários:

Graça Pires disse...

"Uma dor sobrevoa-me as palavras" Um poema que se quer revolta, que é grito de que não desiste de olhar para o campo sem desencanto.
Gostei muito do poema. Obrigada.
Um beijo.

Utilia Ferrão disse...

É lindo o teu poema
Revolta para quê eu já passei essa fase.
Resta-me a outra já nem sei qual...
Beijinhos
Utilia

poetaeusou . . . disse...

*
que belo poema !!!
,
quem vai
a conduzir a motoreta ?
,
srsrsr,
,
conchinhas,
,
*

RETIRO do ÉDEN disse...

Hoje Domingo é dia de dar "banho ao cão"... que a tua mágoa desapareça e a nossa também...
Que Jesus lave as nossas mágoas.
Lindo poema muito realista.
Forte abraço
Mer

Alberto Oliveira disse...

Tenho de te dizer que me surprendeste com este gran finalle.

Parabéns pelo modo como desenvolveste a temática (actualíssima) e pelo poemar... a dois tempos: seríssimo e de final sarcástico.

Beijos e sorrisos.

sonho disse...

Há coisas que revoltam...mas tambem digo:...se te apetece...manda os dar banho ao cão...aos gatos...ao ...
Beijo d'anjo

Å®t Øf £övë disse...

Fá,
Das ovelhas não reza a história, mas neste país parecemos todos umas autenticas ovelhinhas.
Beijinhos.

vieira calado disse...

E nunca
a ovelha se julgou um dia

andar de moto!

O seu poema é interessante.

Às vezes apetece dizer:

Vão...!

Bjs

Micas disse...

Faço minhas as palavras do "Art"...
Bjs

legalmente loira... disse...

querida fa,
Sempre me vem milhares de pensamentos e emoções quando leio suas palavras.
Belo poema!!
Beijos.

Unknown disse...

Bom dia Querida Amiga
Agradeço a visita ao lidacoelho.
Gostei do que vi por aqui e vou seguir este espaço.
Tantas coisas nos revoltam nestes tempos que até já nem é fácil mandá-los dar banho ao cão.
A revolta cada dia é maior e cada vez somos mais e mais pisados...........

By Me disse...

A ovelha de moto...ficou demais! O desarranjo vem de longe e não é fácil o conserto mas há coisas que apetece desatar à estalada! E Eu que não sou nada violenta... totalmente contra guerras e intrigas!

Beijinho

" R y k @ r d o " disse...

Existe sempre lugar para mais um. É preciso é dar largas à imaginação

Uma semana feliz

MARILENE disse...

Muito belo seu grito de inconformismo, de indignação. Gostei muito! Bjs.

chica disse...

O poema é antigo e lindo e parece os problemas tam,bém...Adorei a foto, tão inspiradora,rs...beijos, tudo de bom,chica

pensandoemfamilia disse...

Um grito de indignação , mas nem as sombras deixam a beleza do poema escondida.
Boa tarde. bjsss

A.S. disse...

A nostalgia do poema revela um olhar saudoso sobre um tempo que não volta,
mas que nunca se esquece!
Gostei muito Fá.

Um abraço e uma boa semana para ti!

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