20 fevereiro 2023

De fugir

Um chão que nos foge dos pés 

Uma paisagem que nos treme nos olhos

Um mundo que não nos cabe nas mãos

 

Uma dor que nos chega

Uma palavra que nos parte

Um sorriso que nos morre

 

Uma voz abafada na garganta

Um olhar desfocado de cor

Um sentimento preso na pele

 

Uma ausência forçada

Uma estrofe falida

Uma ferida imunda

 

Uma boca faminta

Uma janela fechada

Uma tela deserta

 

Um abandono que mata

Uma flor de vida pisada

Um desrespeito que é faca

 

Um vento de nortada

Uma bomba perdida

Um grito de rajada

 

Um rol infinito

Um mundo enlouquecido

Um desamor a céu aberto

 

Escapar é imperativo

Desviar-se, fugir ao perigo que nos espreita o canto

É hora de calcorrear a vida mostrando que ela também é amar


(Publicado originalmente a 09/08/2011 no meu blogue Nuvens de Orvalho (apagado), para Fábrica de Letras e Palavras, poema 33)


17 comentários:

  1. Boa tarde Fá,
    Um poema muito belo e tão atual!
    Gostei muito.
    Beijinhos e uma boa semana.
    Ailime

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  2. "Um desamor a céu aberto"...

    Boa tarde de carnaval, querida amiga Fá!
    Uma verdade incontestável se lê aqui.
    O mundo está em polvorosa.
    Oremos!
    Tenha dias de descanso abençoados!
    Beijinhos

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  3. A vida é essencialmente amor, quando ele falta, tudo perde a graciosidade e fica entreaberta a porta para o indesejável, injustiças, guerras e tanta desgraça que vimos assistindo.
    Boa semana, beijinho e kandando!

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  4. Concordo que a vida é acima de tudo amor. Desilusões, mais amor, mais dor, e o amor sempre a resistir. Ele prevalece sempre

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  5. Olá, querida Fá, pois esse belo poema nos dá
    a imagem atual do mundo, de nossas vidas,
    de nossas angústias com uma guerra descabida,
    cruel e incompreensível.
    Não sei para onde estamos indo...
    Aplausos!
    Um beijinho, saúde e paz!

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  6. Versos bem realistas, tantas coisas ruins acontecendo!
    Temos mesmo que escapar e procurar o amor em cada canto, em cada ser!
    Adorei ler!
    Beijos nas bochechas!
    :)

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  7. Hay mucha angustia por el mundo, como bien señalas... Días que a veces es solo para el olvido, a pesar de ello los creyentes seguir adelante y pidiendo a Dios que nos acompañe en el camino...
    Abrazo grande

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  8. Quanta beleza nos fatos da vida que precisam ser superados pelo AMOR. Parabéns. Amei

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  9. Lo trágica que puede ser una vida y todo lo leído me ha llevado a pensar en la guerra de Rusia contra Ucrania y todo lo que destroza porque no solo se lleva las vidas también hiere la esperanza. Ya sé que no se escribió con este motivo pero sí duele leerlo. Un abrazo.

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  10. Profundo, sentido e belo poema.
    Não podemos poder a esperança, por mais difícil que seja o momento presente, pois sem esperança, a nossa caminhada será bem mais sombria.
    Beijinhos

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  11. Fugir para onde?
    Calcorrear a vida é cada vez mais perigoso. Resta-nos o amor, porto seguro onde o chão não nos foge dos pés.
    Excelente poema, os meus aplausos.
    Continuação de boa semana, amiga Fá.
    Um beijo.

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  12. Quanta desolação reunida!
    O poema está bem expressivo, enfático, eloquente
    e expressa uma critica social com bom gosto.
    Regressando... Beijinhos
    ~~~~~~

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  13. Maravilhosos textos encontrei pelo teu cantinho. O tempo nem sempre me permite. Mas quando posso venho... Beijo

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  14. Gostei muito do poema, e concordo que "Amar é imperativo".
    Feliz páscoa, beijos https://enfimsetenta.blogspot.com/

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  15. Um poema com uma actualidade impressionante!
    Quando será que o mundo deixará de ser assim?... O que anda a humanidade cá a fazer, senão a aprimorar o que de pior pode fazer entre si... por convicção ou inconsciência...
    Magnifico e assertivo poema, Fá!
    Um beijinho! Continuação de Festas Felizes!
    Ana

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«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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