1. Se queres bem conviver com o teu inimigo, ignora-o. Não alimentes a sua fome de acicatar a inimizade.
2. Fecha os olhos às suas provocações; não queiras ver o mal que te quer fazer.
3. Se te acercar um temporal vindo dos lados do teu inimigo, afasta-te e observa-o de longe até que perca a intensidade; um temporal tem sempre um lado fascinante, espectacular, quando no auge, mas terá um fim, tal como teve um princípio.
4. Passa ao lado do seu mar se ele estiver muito bravo, não te vá ele afogar.
5. Aprende a nadar, para o caso de alguma das suas ondas te abalroar.
6. Rema contra a maré, com força, sem desanimar, se preciso for.
7. Contorna, ao largo, o seu barco, antes que te pegue e te faça naufragar.
8. Se não o podes vencer, junta-te a ele. Come com ele à mesa – reparte a refeição, dá-lhe do teu pão; embebeda-o com o teu vinho, pode ser que ele caia como um patinho.
9. Finge que vais na sua cantiga, mas com esperteza, sem te deixares cair na sua lábia.
10. Dá-lhe palmadinhas nas costas – um elogio engana-lhe o frio e aquece-lhe o ego.
11. Sorri para ele sem que perceba que te estás a rir dele.
12. Levanta-o quando cai ao chão; dá-lhe a mão mesmo que te apeteça dar-lhe um chuto com o pé. Assim é que é para te sentires maior.
13. E se cair no hospital vai visitá-lo; melhor ainda: visita-o na cadeia.
14. E se ele tiver a barriga tão cheia que o ódio esteja sempre a transbordar, veste-te de uma couraça de ferro, ou de aço – uma capa (quem tem capa sempre escapa).
15. Uma última solução: é sempre melhor não o ter ao pé da porta, muda de lugar (longe da vista, longe do coração).
(M. Fa. R. - 07.12.2010)