Feliz Natal !




Paz e Amor
Saúde, Felicidade e Alegria
Deseja-se a todos nestes dias
Pois despontou a aurora na noite
Nas trevas brilhou uma Luz
Para nos apontar o caminho
Rompeu as sombras do mal
Da Virgem nasceu Jesus
Num presépio pobrezinho
Desceu para nós – é Natal! 

 4º Encontro Temático de Juvenal Nunes - Um Poema de Natal 

Publicado originalmente em 24/12/2010 em Nuvens de Orvalho (apagado), como resposta ao desafio de  Fábrica de Letras, Desafio de Dezembro
com Adenda em 31. 12. 2010
Sai um ano e entra outro
Para muitos de modo banal
Mas cresça um ano de luz
Que em todo o ano Natal!



A Chave




Quando Deus expulsou Adão e Eva do paraíso terrestre, vedou-lhes o acesso à vida sem fim. Não acontecesse comerem do fruto da árvore da vida, como comeram do da ciência do bem e do mal. E a árvore do fruto da vida eterna ficou lá. Fechada à chave e guardada por querubins.
Ora, Adão e Eva, sem terem acesso à vida ilimitada, não a poderiam transmitir à sua descendência. Por isso, a Humanidade ficou condenada.
Desde então, o segredo da vida eterna - não da vida para além da morte, mas da vida sem morte - tem sido sempre objecto de procura incessante do Homem. Mas esse segredo está fechado à chave, e esta, dada como irremediavelmente perdida; não se sabe onde estará: se com os querubins, se nas mãos de Deus… ou nas de S. Pedro, aquele que tem as chaves do Reino dos Céus. O Homem bem a tem procurado, mas sem êxito. E sem ela não há acesso ao fruto que dá vida infinita. Sem chave é morte certa!

Foi aí que dei por mim a pensar: se não há chave tem de se arranjar. Aí está! Encontrei a solução para a vida eterna. A solução está na chave.
Tanto que o Homem tem buscado uma solução para a morte: uma chave. Quer através de mezinhas caseiras, quer em cada vez mais sofisticadas práticas laboratoriais, como a clonagem, a manipulação genética: uma chave! Bem têm procurado uma chave. Mas não era uma chave que faltava, era A chave: aquela chave que abre a porta do jardim onde está a árvore da vida. Só com o fruto dessa árvore se conseguirá eliminar a morte. A chave é a única solução para abrir a porta à vida sem limite temporário.
A chave! A solução está na chave.

Por isso tem de ser feita outra chave. É a única solução: fazer outra chave que sirva naquela fechadura… que sirva naquela fechadura, daquele portão!
Lamento! Mas esta é uma triste conclusão. É que os querubins estão de guarda, armados de espadas flamejantes… como chegar lá? E quem se atreverá a desafiar Deus, ao ponto de sequer tentar fabricar outra chave?
No entanto, a chave é a única solução!
Quem se atreverá? Quem conseguiria? Quem é que se deixa dominar pela imaginação?
Será isto tudo uma utopia? Ou não passará tudo de ficção?
Se alguém acha que é mentira, eu não!... [não]???

(M. Fa. R. - 30. 03. 2009)

A Caixa


O rapaz espiolhava a caixa de cartão com gestos nervosos. Lá dentro, um pedaço de dor aprisionado. Todos os dias a mesma coisa: a mesma inquietação, o mesmo cansaço. E a mesma indecisão a roubar-lhe o ânimo. E o medo a espetar-se-lhe como injectável de penicilina a que era alérgico. Um antídoto: precisava urgentemente de um antídoto. Sabia o veneno a espalhar-se rapidamente em espasmos irracionais, incontroláveis. E cerrou com força os olhos; contornou a torneira do pânico; tapou a caixa. Era melhor esperar amanhã. Amanhã é sempre outro dia.
Mas amanhã não lhe traria surpresas. Ou, quem sabe, trouxesse… mas não a liberdade. A liberdade era ali cúmplice da coacção. E o corpo, uma cela de prisão. E a frustração uma arma que a própria mão atira ao peito, à traição. E então, a infidelidade toma forma quando repetidamente pensada.
Os homens são todos iguais. Assim como as mulheres. Eles iguais a eles; elas iguais a elas.
Mas a fidelidade também está aí: em ser-se igual aos homens se se é homem; e igual às mulheres se se é mulher. Caramba: um homem é um homem! (E um bicho é um gato). Tomou, por fim, a decisão: não voltaria a ser fiel. Na caixa de cartão, os sapatos de Cinderela esperavam a hora de o fazer sentir a mais bela.

(M. Fa. R. - 30.11.2010)

Sorriso



Uma janela, aberta de par em par, por onde a alma se escapa. Por vezes timidamente; outras, à descarada. Uns dias, só uma fresta; outros, escancarada. E a alma passa: tantas vezes receosa; outras, alma penada; vermelha, cor-de-rosa, amarela, esverdeada; com sonho ou acordada. Uns dias, de noite escura; outros, de madrugada; outros, ainda, à dependura do sol, que sobe no horizonte, levando pelo caminho os outros até à fonte.

Sem cortinas e com elas: passa calor, passa luar, frescura à luz de velas; ternura, aconchego, carinho; humor, vida, atenção; zombaria, alegria; uma seta que se espeta no centro do coração.

Pertinente, inconveniente, um raiar de sentimento. Às vezes, um diz que diz; outras vezes por um triz um ar de graça que passa, sem jeito, com jeito, a preceito, por tudo e por nada. E outras vezes, contudo, com tudo e sem nada.

Gata Borralheira



(Degas, The rape - 1868/69)

O amor tem destas coisas: por vezes acaba. Até o dia que nasce com um sol esplendoroso pode ficar carregado de nuvens negras. Porque teremos nós a capacidade de mudar?
Um amor para a vida inteira é, cada vez mais, uma utopia. Sonha-se com o príncipe encantado, ou com a Cinderela, e depois, o príncipe, afinal, é um sapo, ou à Cinderela, descobre-se que não lhe serve o sapato.
Um Príncipe e uma Cinderela – uma história banal: Filomena, menina-mulher, casara com o príncipe dos seus sonhos, depois de meia dúzia de meses de romance, em que por uma meia dúzia de vezes se olharam e outra meia se tocaram. Nesse dia, sentira-se a princesa que ele tinha resgatado de Gata Borralheira, daquela sub-vida em que os maus tratos físicos e psicológicos eram o seu pão de cada dia. Começara, enfim, a viver. Emergira e sentira-se flutuar numa doce magia, numa felicidade dourada e reluzente, num sonho tão cor-de-rosa, que até estremecia com medo de acordar e vir a descobrir que aquele sonho era um pesadelo.
Decorreram semanas de mel e luar em que ele, amante apaixonado, sofregamente, a ensinou a ser mulher, a descobrir sensações nunca antes imaginadas. E aprendeu o que era amar, o que era desejo, o que era o êxtase e a plenitude da felicidade.
Exalando um mar transbordante de águas quentes – escaldantes até – cega de amor e de vida, passavam-lhe ao lado alguns pormenores. O seu marido, cada vez mais, vivia na noite, com o álcool como companhia principal; mas ela desculpava, porque ele a amava sempre com intensidade, impetuosamente. Se existiam algumas diferenças, essas eram em si. Descobriu porquê: estava grávida. Ele confiou-lhe lágrimas de alegria, e nela elevou-se o instinto maternal – ele queria um filho. Sublime contentamento, suprema negridão. Não, não era uma filha que ele queria…
O modo como se desenrola uma história, apesar de contornos peculiares, não é muito diferente de outras histórias. Filomena carregava uma filha no ventre e, ao mesmo tempo, foi carregando agressões, violações, fome; toda a espécie de violência física, verbal e psicológica, por parte de um homem cobarde e irracional que, sob a capa do álcool, parecia lograr um só propósito. E a filha nasceu… e morreu em seguida.
O que sempre temera acabara de acontecer.

(M. Fa. R. - 21.02.2009)

A Minha Planta



Tenho uma planta encantada
Que não sobrevive se não for bem alimentada.
Água e luz do sol nas doses certas
É o que a faz viver de folhas abertas.
Precisa de carinho e atenção
Para arraigar o coração.
Se me esqueço de a regar fica com sede
Se lhe escondo o sol definha sem rede;
Se lhe dou água a mais posso afogá-la
Se a exponho ao sol intenso posso matá-la.
Gosta que lhe cante e lhe faça rimas
E lhe murmure momentos de estimas,
Vitaminas de alegria,
Nutrientes de ternura,
Fontes a correr magia,
Onde brilhe a água mais pura;
Que não lhe soletre ventos uivantes
Nem lhe aponte rios transbordantes;
Que não lhe ensine desertos
E nem lhe chova céus abertos;
Mas que lhe firme oásis, estrelas, cor...

A minha planta chama-se Amor.



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