“Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.”
Se o céu anéis tivesse nem que de eclipses de luas,
e degraus na terra houvesse
quando o arco-íris tocasse a terra e a juntasse às nuvens bordando ruas,
então subiria ao céu e por lá procuraria o esconderijo da lua,
o sítio em que se oculta quando não mostra o luar.
Mandaria que tivesse sempre o rosto luminoso, e a face negra calada,
para que sempre brilhasse.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e que essa luz se espraiasse por longe tocando o mundo.
Que essa chuva escorresse, lavando a dor do sal
das lágrimas que nascem do mal que há em redor oprimindo.
E que a neve branquinha, imaculada e pura, purificasse o olhar de quem só se vê a si.
Porque há uma noite comprida, de uma ansiedade vivida, em que o mal ataca o bem,
e que me deixa perdida, dormente e nauseada,
cortada e a sangrar, ferida por fora e por dentro.
Pois que eu, sufocando um lamento,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
E foi tal o meu estertor que até as nuvens coraram tingindo a areia da praia,
e a fímbria do mar, e o meio do mar, de sangue se cobriram,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
É como cicuta que rói, que envenena e mata todo o mundo e o apodrece,
uma maldade latente, uma crueldade vigente, no fundo da alma humana,
que sem respeito e amor, vai roubando a dignidade,
abrindo brechas e rombos ao pobre de qualquer cor.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Que a negou à boca do pobre,
e o arrastou pela lama,
que o abusou nessa cama,
e lhe desfechou facadas cruas, cruéis,
a esmo, com lança de baioneta,
deixando a porta aberta
à chacina e às injustiças sociais.
Maldito seja quem não vê
e quem lava as suas mãos, pensando-as imaculadas.
E aviltado seja aquele que, sem dó nem piedade,
rouba até o sol ao que já mais nada tem.
Pois onde não há justiça,
só a caridade, o amor, a solidariedade, são o único bem.
Ai, se o céu tivesse anéis,
daqueles com que eu soubesse que revolveria o mundo,
dentro deles, descendo, rodopiaria e nunca os largaria enquanto o bem não surgisse,
enquanto o mal não saísse, até que vagueasse errante, sem encontrar poiso algum.
E se degraus na terra encontrasse, daqueles por onde subisse para procurar uma luz,
eu calcorrearia o céu em busca do sol poente,
e quando o encontrasse, pediria que sempre luzisse,
e que nunca mais se escondesse,
que a terra precisa de luz.
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.”
Se o céu anéis tivesse nem que de eclipses de luas,
e degraus na terra houvesse
quando o arco-íris tocasse a terra e a juntasse às nuvens bordando ruas,
então subiria ao céu e por lá procuraria o esconderijo da lua,
o sítio em que se oculta quando não mostra o luar.
Mandaria que tivesse sempre o rosto luminoso, e a face negra calada,
para que sempre brilhasse.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e que essa luz se espraiasse por longe tocando o mundo.
Que essa chuva escorresse, lavando a dor do sal
das lágrimas que nascem do mal que há em redor oprimindo.
E que a neve branquinha, imaculada e pura, purificasse o olhar de quem só se vê a si.
Porque há uma noite comprida, de uma ansiedade vivida, em que o mal ataca o bem,
e que me deixa perdida, dormente e nauseada,
cortada e a sangrar, ferida por fora e por dentro.
Pois que eu, sufocando um lamento,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
E foi tal o meu estertor que até as nuvens coraram tingindo a areia da praia,
e a fímbria do mar, e o meio do mar, de sangue se cobriram,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
É como cicuta que rói, que envenena e mata todo o mundo e o apodrece,
uma maldade latente, uma crueldade vigente, no fundo da alma humana,
que sem respeito e amor, vai roubando a dignidade,
abrindo brechas e rombos ao pobre de qualquer cor.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Que a negou à boca do pobre,
e o arrastou pela lama,
que o abusou nessa cama,
e lhe desfechou facadas cruas, cruéis,
a esmo, com lança de baioneta,
deixando a porta aberta
à chacina e às injustiças sociais.
Maldito seja quem não vê
e quem lava as suas mãos, pensando-as imaculadas.
E aviltado seja aquele que, sem dó nem piedade,
rouba até o sol ao que já mais nada tem.
Pois onde não há justiça,
só a caridade, o amor, a solidariedade, são o único bem.
Ai, se o céu tivesse anéis,
daqueles com que eu soubesse que revolveria o mundo,
dentro deles, descendo, rodopiaria e nunca os largaria enquanto o bem não surgisse,
enquanto o mal não saísse, até que vagueasse errante, sem encontrar poiso algum.
E se degraus na terra encontrasse, daqueles por onde subisse para procurar uma luz,
eu calcorrearia o céu em busca do sol poente,
e quando o encontrasse, pediria que sempre luzisse,
e que nunca mais se escondesse,
que a terra precisa de luz.
(M. Fa. R. - 13.04.2009)
Inspirado em Herberto Helder: Se houvesse degraus na terra...
Olá Fa;
ResponderEliminarUm poema utópico, mas um belo poema.
Se as escadas nos levassem a todos os lados que desejamos, sem dúvida que o primeiro lugar a visitar seria o Paraíso.
Problemática seria a volta porque decerto não quereriamos mais descer...
bjs, Fa,
Osvaldo
A vida é feita de degraus, não é? E nem sempre subir é melhor que descer...
ResponderEliminarBeijo.
A vida é feita de escadas, o que acontece é que nem sempre escolhemos a escadaria mais directa para alcançar os sonhos... Faltam mais bússolas e placas orientadoras.
ResponderEliminarMérito é viver cada degrau seguros de que demos o melhor de nós na procura da felicidade!
Sê feliz!
Oh minha querida, Que lindo! Parabens por este texto... A vida é feita de degraus, degraus para subir e poder construir, não e? Que possamos contruir pessoas melhores, uma vida melhor... 1 mundo melhor.
ResponderEliminarBeijinho grande
ps - parece que ando desaparecida, mas estou sempre por perto.
Sabe, choro muitas vezes a impotência...olho este mundo e choro a impotência dizendo para mim
ResponderEliminar" SE pudesse..."
...leio então, só para me lembrar, As Mãos (deixo-lhe os versos em baixo) e tento perceber que nas mãos está, tantas vezes o mal, o fazer o bem...isto é, Minha Cara, há degraus na terra - Você - e anéis no céu - como por exemplo o texto que escreveu...
Abraço
As mãos
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Fá,
ResponderEliminarNão conheço o original, mas não me importo nada. Já é a segunda vez que te venho ler e não sei o que dizer. Olha, só me apetece pedir que mo mandes assinado (para não dizer: um ótógrafo).
Lindo, lindo, que não apetece sair daqui, só mais um bocadinho... desculpa lá eu ser assim.
Obrigada e um beijinho.
(Ah, mas que bonito...)
Meus lindos,
ResponderEliminarobrigada pelas vossos degraus por aqui... afinal, temos nós que ser os degraus para chegar aos outros. Se o não formos nunca sairemos da cave escura e não veremos a luz do sol.
Maluzinha,
... um ótógrafo?... bem, quando eu for famosa penso no teu caso, lol
Beijinhos para todos
... hoje estou como o poeta (metaforicamente escrevendo, claro): se o prédio onde resido, tivesse elevador (em perfeitas condições de uso) eu não teria subido a pé até ao décimo-segundo andar e atirar-me de seguida para cima da cama até recuperar do esforço despendido.
ResponderEliminarMaldita seja a administração de condóminos que se meteu na cabeça que todos os moradores devem primar pela elegância física...
Beijos e sorrisos.
Então façamos nós a luz,
ResponderEliminareu aqui, com pequenos gravetos faiscas de luz.
Você ai com lascas de pedras, fazendo brilhos de luz, pois tenho certeza de que existe em outro lugar que também alguem a atritar ferro para criar pingos de luz, até que consiga um grande clarão de luz da terra feito por nos, terraquios, ai alto iluminará e Ele com sorriso complascente dira:
" vô-lo em verdade: se tivésseis fé como um grão de mostarda, direis a esta montanha: Transporta-te daqui para ali, e ela se transportaria, e nada vos seria impossivel." (São Mateus, Cap.XVII)
Beijinhos Fá
Querida Amiga Fa menor,
ResponderEliminarLindo, lindo, lindo!
Se não fosse a maior utopia
Se não fosse a eterna esperança
Nunca haveria aquela alegria
Que um dia também se alcança
Os ricos põem também a render
A miséria que eles provocam
Por não quererem nunca ver
A falta de ética que evocam
Mas a vida sempre evolui e dá
O mérito a quem é fraterno
Do nada salta para o lado de cá
Aquele abraço de luz eterno
Um grande abraço para si que, de menor, nada tem. Antes será Fa Maior.
José António
*
ResponderEliminarFa menor,
não terá sido
o herberto helder
que adaptou o teu texto ?
,
conchinhas,
deixo,
,
*
Bem feito, sim senhor!
ResponderEliminarCumprimentos
Olá Fa!
ResponderEliminarO texto e a imagem são lindos.
Não tenho palavras para o comentar. Algo que pudesse dizer de certeza que nõ acrecentaria algo. Nele está tudo.
Beijinhos
Ola lindo poema, mas mais lindo parece ser o coração de quem o escreveu!
ResponderEliminarBeijos e boa semana
José
Uma boa inspiração...de uma boa inspiração..., só resultaria este embriago sedutor...
ResponderEliminarFelicito-te pelo excelente trabalho poético do Herberto Helder.
ResponderEliminarPoderá dizer-se que o poeta transpôs para o poema uma realidade que todos vemos e sentimos. Contudo, por vezes não há alquimia, nem saber, nem amor, apenas um patíbulo. Somente a sombra do tempo se passeia!
Uma noite linda. Beijinhos
Muito boa sua inspiração, Fá! A dignidade humana haveria que ser preservada, abraçada por cada um de nós, independente dos degraus já alcançados. Bjs.
ResponderEliminar