01 outubro 2024

A Potes


Um pote: metade barro do fundo à barriga; metade verde vidrado da barriga à boca. Pequeno. Em cima da mesa, no tampo de vidro. 
Outro pote: grande – do lado de fora do vitral. Escorre-lhe o amarelo vidrado sobre o branco barro. 

Para lá das arcadas, no cimo da montanha – lá ao longe – tomba a bruma ao encontro do verde das pastagens, por detrás do barro das telhas nos telhados – menos longe – parcialmente encobertos por outros verdes que se desdobram em vários tons de ramagens. Espessas. Compactas. Mais perto. Mas, por sua vez, outros barros de telhados se lhes sobrepõem – ainda mais perto – espreitando outros verdes, esguios de caniços e de folhas laminadas de palmeiras, oscilando na brisa – tão perto – no jardim verde de relva. Já ali. 

E debaixo da arcada, o pote. Escorrido de amarelo. E para cá do vitral, o pote. Metade verde vidrado da boca à barriga; metade barro da barriga ao fundo. Em cima da mesa, do tampo de vidro. 
Debaixo da mesa, outro pote. Invertido. Colado ao vidro. Reflexo baço de sombra. 
Por detrás da mesa, a cadeira. Aqui. E eu sentada nela. 
E espero. Sentada. 

A espera faz-se tão longe! A potes.


16 comentários:

  1. Será algum desses potes o tal das moedas de ouro?
    Bjs

    ResponderEliminar
  2. Bom dia
    Sonhei aqui e deixei-me acorrentar nesta nova forma de escrever como quem pinta um quadro.
    As frases pequenas. Uma palavra apenas seguida de ponto.
    Quem quiser pode parar ou continuar lendo ou sonhando nos acontecimentos de cada quadro.
    Cada pote tem as cores que lhes damos ou os materiais que os fazem mais preciosos ou delicados.
    É assim que muitos dias me sento ao Sol e cuido do meu jardim.

    ResponderEliminar
  3. Olá Fá, como tem passado amiga?
    Ao lê-la imaginei uma tela em que ia visualizando a sua belíssima poesia! Adorei a potes;))! Beijinhos e muito obrigada por este sublime momento! Ailime

    ResponderEliminar
  4. Para lá das pontes

    os potes

    ResponderEliminar
  5. Um texto - espera - poema...nostalgia e beleza.

    Beijinho

    ResponderEliminar
  6. Os potes como pretexto de uma espera e de um excelente texto...
    Beijo.

    ResponderEliminar
  7. Tu escreves a potes...
    Excelente, minha querida amiga, gostei imenso.
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  8. Um pote... a dizer o nosso olhar!
    beijo amigo

    ResponderEliminar
  9. Minha querida

    Esperar até que as esperas sejam gestos. Lindo sempre.

    Um beijinho com carinho e bom Domingo.
    Sonhadora

    ResponderEliminar
  10. Um simples pote que pode conter pequenos pedaços de vida; olhamos ao longe e temos sempre uma paisagem...amontoados de casas...casarões...casebres; montanhas por trás...rios correndo pelos seus vales... simples jardins enfeitando as casas...muitas vezes muito lixo tornando mais miseráveis os casebres. E lá continuamos nós... a cada dia um novo pote, diferente, mas sempre presente;boca para baixo...inclinado...mas alguns ao alto.., de boca para cima, como a lembrar-nos que sempre o podemos encher com as nossas memórias...os nossos sonhos...as nossas esperas. Há potes a potes, amiga, mas gostei muito destes teus. Um beijinho e até sempre.
    Emília

    ResponderEliminar
  11. .

    .

    . lembrou.me Pessoa . pois lembrou .

    .

    . de.dentro.para.fora . e sempre inteligente .

    .

    . um beijinho meu .

    .

    .

    ResponderEliminar
  12. A espera ,sentado
    Que lindo descrição que os seus olhos contam .
    bjs

    ResponderEliminar
  13. Adorei visualizar o belo e tranquilo cenário, para o qual, as suas palavras nos conduzem, Fá!
    E gostei mesmo... a potes! :-))
    Acho que me vou sentar nessa sua cadeira... e esperar também, Fá... que pelo menos, o mundo, fique um lugar bem menos estranho de se frequentar... agora que se medem as distâncias de tudo e de todos... e que cada saída e entrada em casa, impliquem uma logística e tácticas de precaução, levadas ao extremo do infinito...
    Também adivinho que teremos mais uns quantos meses... neste estado de coisas!...
    Esperemos, pois... pois quem espera... sempre alcança... haja saúde... que é o principal!
    Um beijinho! Continuação de uma boa semana! E cuide-se bem, Fá... agora nesta fase que o Sul, estará bem mais movimentado de novo...
    Ana

    ResponderEliminar
  14. Os potes e tudo o que neles transportas
    Boa semana, beijo

    ResponderEliminar
  15. Um cenario muito bem redigido
    E atrativo
    🙂

    ResponderEliminar
  16. Eres una genial narradora . Buen relato te mando un beso

    ResponderEliminar

«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
.
Leia pf: Indicações sobre os Comentários

poderá também gostar de:

Tons Maiores: