08 junho 2018

Poeira



Há poeira no ar. No chão da rua. Nas escadas de cimento velho que levam ao primeiro andar...  
Infiltra-se nas casas através das frinchas, e vai até ao mais recôndito da alma – um outro patamar.
Quando chove pode enfim remover-se a poeira que se tinha acumulado e tornado eira, esteira, ladeira íngreme e pestilenta, escorregadia. A chuva refresca, lava e depura a macilenta agrura em que se tornou o dia-a-dia de poeira-eira-esteira-ladeira. 
Mas há poeira a formar-se continuamente no mesmo lugar. 
E quando chove dias a fio, num tempo em que se esperava estio, a poeira-eira-esteira-ladeira engole-se à mesa da cozinha defumada, como se broa bolorenta fora manjar. 

Por vezes é preciso deixar a poeira assentar. E depois a chuva cair. E regar. Lavar. Escorrer. Até parar. 

Mas como tantas vezes isso tarda em acontecer!

17 comentários:

  1. Admiravel, como a Senhora escreve um texto tão lindo e fluente .Além disso usando um vocabulário que é muito estudioso para mim.
    Abraço

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  2. Sim, um texto inteligente, melódico, interessante. Adorei!

    Beijinho e bfs

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  3. Sim, por vezes é necessário deixar a poeira assentar!
    Gostei muito da prosa poética.

    Bj

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  4. Gosto muito desta "Poeira" escrita, que a meu humilde ver condensa de fina forma literária o contínuo e, no limite, dilemático acumular de poeira desta nossa existência!

    Beijos, com votos de excelente semana
    VB

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  5. Olá, Fá


    A chuva na sua missão benfazeja traz-nos frescura e lava e alimenta as nossas almas sedentas de paz.

    Bj

    Olinda

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  6. Lindooo texto.AMEI!
    É preciso deixar a poeira assentar e depois lavar, lavar, até que tudo fique a brilhar.
    Gosto de poesia, mas também amo a prosa e este texto tocou-me muito.
    Obrigada.Beijinhos.

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  7. Um texto muito bem imaginado, Fá!...
    Hoje passei por aqui, para conhecer este cantinho, que adorei descobrir! E apreciar o seu talento para a escrita!...
    Parabéns! Adorei!
    Beijinhos! Boa semana!
    Ana

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  8. Fá,
    Gostei demais desta "prosa poética". Muita musicalidade, ritmo. E da poesia saindo dos poros de cada palavra. sobretudo da maturidade de "cada palavra exposta".
    Beijinhos,

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  9. Que texto fantástico... Deixa-nos a divagar nos pensamentos.
    Muito obrigada por partilhar
    Beijinho

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  10. Pois é....Por vezes é preciso.
    palavras cheias que entram dentro de nós e fazem ninho junto da alma . Adorei esta Poeira
    brisas doces *****

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  11. Querida amiga,
    seu texto tem uma beleza e delicadeza que me encantou.
    Por vezes, é preciso agir como a natureza. Esperar a que venha a chuva para lavar a terra seca e fazer brotar vida nova.
    Beijos, parabéns pelo dom tão belo de sua escrita.

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  12. Até senti sufoco com tanta poeira... Srrssssss...
    O belo texto poético reporta-me a um lugar de
    clima desértico...
    Beijinhos, Fá.
    ~~~~~

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  13. Texto lindíssimo de ler. Elogio e aplaudo a forma que usa no trocadilho das palavras. Muito bom

    Feliz fim de semana.

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  14. Olá, Fá!
    Vim, parei e senti-me bem. A prosa é maturada como quem espera que a poeira assente e a palavra se solte cristalina.

    Voltarei.

    Beijos.

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  15. para lavar a alma e ela se expandir possibilitando que haja mais mundo dentro de si! um beijo.

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  16. Neste caso é uma Poeira invasiva
    😊
    Ainda bem que já se foi embora

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  17. Tienes razón a veces acumulamos demasiado lastre que es necesario limpiar...
    Abrazo

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«a vida, a meu ver, é polarizada entre a prosa – ou seja, as coisas que fazemos por obrigação, que não nos interessam, para sobreviver – e a poesia – o que nos faz florescer, o que nos faz amar, comunicar. E é isso que é importante.»
(Edgar Morin)
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